quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CHE - PARTE 2 (UMA ANÁLISE)


O projeto capitaneado por Steven Soderbergh para levar a história de "Ché" demorou 5 anos para sair do papel, iniciado pelo "recluso" diretor Terence Malick, o projeto passou por várias produtoras e financiadoras. O projeto de Soderbergh era ousado, filmar um longa de mais de 270 minutos e dividí-lo em dois momentos, a tomada do poder em Cuba denominado "Guerrilla" e um segundo momento denominando "O Argentino" que mostrariaa Ché nos últimos dias de sua vida na Bolívia, organizado a fracassada guerrilha.


A Parte 2, antes denominada de "O Argentino", inicia-se com a ida de Ché a Bolívia, une-se a um pequeno grupo guerrilheiro local, unido a mais alguns cubanos, para iniciar um novo "Processo Revolucionário".

A Narrativa desenvolve-se toda em cima dos "Diários Bolivianos de Ché Guevara", e claro como a primeira parte, desenvolvida em cima do livro de Jon Lee Anderson, denominada "Che Guevara: A Revolutionary Life", o livro por si já é descrito como uma "desmistificação" da figura Ché Guevara, semelhante a toda narrativa dos dois filmes de Soderbergh, "humanizar" Ché é uma questão permanente e pertinente de ambas as partes, mas é na segunda que ela se torna definitiva.


Vemos um Ché agora cada vez mais humano, acossado pela asma, liderando uma Revolução que cada mais se demonstra com o passar dos dias, impraticável. A Narrativa segue as desventuras da guerrilha, começando com a dificuldade de se encontrar jovens descontes com a situação boliviana e dispostas e iniciar um levante, a guerrilha não consegue o apoio do partido comunista boliviano, a falta de apelo dos camponeses que viviam próximos a região da guerrilha.


Observamos aí, uma questão muito abordada por nós historiadores, o famoso "contexto", Ché talvez tenha cometido um erro, o contexto em que ocorre a Revolução Cubana é completamente diferente do momento em que Ché está na Bolívia. O erro de Ché além de um erro contextual é um grave erro geográfico e social. Geográfico porque Bolívia e Cuba são diferentes, Cuba é um ilha, onde a Revolução se desenhou em cima da questão geográfica cubana onde a guerra de guerrilhas se mostrou absolutamente vitoriosa, já na Bolívia uma geografia montanhosa e completamente diferente das aspirações da guerrilha em Cuba, demonstra a impraticabilidade dessa nova tentativa de Ché.


O erro social, é um pouco diferente, aquele contexto do fim dos anos 50 e a ditadura de Batista propiciaram ao povo cubano se entregar e se unir a um ideal revolucionário comandado por Fidel e Ché, agora o contexto boliviano é completamente diferente, não havia no campesinato, ou nos mineiradores ou no opeariado boliviano da década de 60, aquele sentimento revolucionário ou aquele sentimento de sibmissão a um Sistema Capitalista e não tinham aquela capacidade de enxergar a Bolívia como satélite do Governo Americano, diferentemente dos cubanos do fim dos anos 50 que conseguiam ter essa sensibilidade.


Assistir a Ché - Parte 2, é um exercício histórico e que nós historiadores nos diferimos na análise do que fazem os jornalistas, observamos sim a parte técnica, as atuações, mas temos aquele diferencial da percepção do contexto histórico, e nós temos a obrigação de reafirmar e que Soderbergh teve uma capacidade enorme de demonstrar em seu filme, a História nunca se repete, nunca é cíclica, e é isso que faz a História algo sensacional, Ché e seus comandados cometeram o erro da tentativa de se transpor de um contexto X para um contexto Y, sem levar em consideração que X não é igual e nunca será a Y.


Quanto as interpretações, Benicio Del Toro está contido, com poucas falas, uma interpretação intimista e de uma solidez espetacular, é um Ché que demonstra medo, que vai para Bolívia com um ideal, o mesmo ideal que o fizera se juntas a Castro para iniciar a Revolução, mas esse ideal vai se perdendo ao decorrer da história, esse Ché não é e está longe de ser mito, ele é um ser humano que carrega em si a "praxis", a prática, ou seja, nunca Ché seria um burocrata, ou um simples funcionário do alto comando do Governo Cubano, Ché tinha em sua própria personalidade esse caráter de não se contentar em nenhum momento com a estagnação e via com a formação da sua guerrilha na Bolívia um forma de externar todo o seu interior.


As interpretações dos guerrilheiros locais, são muito interessantes, a maioria deles atores de descendência indígena ou mestiça e não profissionais, conseguem nos expor todo o sentimento daquela sofrida população, outro ponto positivo para Soderbergh na escolha de ser "cast".


Ao lançar dois longas distintos e separados, Soderbergh deu uma "banana" para o comercialismo do cinema contemporâneo, pouco se importando se o filme teria retorno comercial ou não, por sinal, algo marcante em sua carreira, dos projetos do diretor americano, eu observo que ele sempre os lança a seu gosto, se cair no gosto do público caiu se não também não há problema. Dos seus sucessos comerciais como a trilogia "11, 12, 13 Homens e um Segredo", demonstra bem isso, foram reuniões de amigos que queriam fazer um filme leve, rápido e simplesmente fizeram daquilo sucessos comerciais, em outros momentos o diretor investe em pequenas produções com atores amadores como "Buble" ou "Girlfriend Experience", ou filmes intimistas que vão na contramão do cinema atual Hollywoodiano, como sua versão de "Solaris" ou "Segredo de Berlim", coisas que só Soberbergh é capaz de fazer no atual cinema americano, ele surge como uma das poucas figuras pensantes na atual realidade hollywoodiana, juntando-se a pessoas que ainda tentam fazer aquele cinema autoral, autêntico, e cada vez eu sinto falta desses "Soderberghs", "Sean Penn's", "Terrence Malick's", "Coen's" e por aí vai, e me preocupo também com essa geração de "Michael Bay's" megalomaníacos que adoram destruir e não construir um cinema autêntico.

Um comentário:

  1. oi João, tb adorei suas críticas, também estou no começo do blog, e ja estou te seguindo, bjs

    ResponderExcluir